quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Fotografia e memória


Fernando de La Rosa, o peruano torto de simpático


Samuel Bollendorff, o francês fotojornalista: www.loeilpublic.com


Sala de leitura de portfólios, muito organizada


Bjorn Sterri, o norueguês. Em marcha forçada...


Banheiro de centro cultural é, antes de mais nada, banheiro


Trabalho de uma colombiana, sobre a guerrilha. Rio abaixo. O texto faz tudo melhor


A antológica Lúcia e o Festival da Luz

Fotos: Flavio Dutra

Estou em Buenos Aires. Grande cidade! Grande!!! Vim (mais Lúcia, Letícia e Bete) participar dos XV Encontros Fotográficos – Festival da Luz. Muitas exposições, palestras, conversas com autores, leituras de portfólio. Organizado, bacana, rico em experiências. Bom para aprender. Sobre trabalhos e como fazê-los; sobre exposições e suas formas; sobre molduras e formas de pendurá-las; sobre como as idéias cada vez mais circulam de forma parecida (bom pra saber que originalidade, hoje, não é uma questão). Grandes momentos até agora: Bjorn Sterri, um norueguês que fotografa... sua família e só isso. E que não se tome “só” por “pouco”. Não, é muito e intenso. A fala dele hoje deixou todo mundo emocionado; Fernando La Rosa, um peruano sensacional. Acho que se poderia dizer que se o carisma já reencarnou, foi nele, desistamos, esperemos a próxima vez. Sujeito bom!; a exposição da Graciela Iturbide, uma mexicana que, se não estou enganado, é da Magnum (sim, estou enganado, nadaquever!). E o Oscar Pintor, um argentino que, não preciso dizer mas digo, apesar do nome, é fotógrafo da gema, nascido entre o metol, a hidroquinona e o hipossulfito de sódio. E também um fotojornalista francês, Samuell Bollenforff com um trabalho sobre a China (outra, não essa do Ninho de Pássaro e do Cubo d’Água, que, aliás, não consegue me comover depois de ter visto essa exposição). Duas coisas muito impressionantes nesse festival: a força do preto e branco e a presença da morte nos trabalhos. De se pensar...

Mas quero contar uma historinha, particular, porque tem a ver com a memória e, talvez, não haja coisa maior em fotografia que memória. Em 1998 fiz uma viagem pelo norte da Argentina. Ia fazer a clássica ida ao Peru mas queria fazer por um caminho diferente. Vim a Buenos Aires, fui a Córdoba (onde vi gente olhando filme projetado em uma parede na Plaza de Armas, sensacional), depois a Salta e, ainda, subi as “quebradas” de Purmamarca, Humauaca e finalmente, cruzei a fronteira com a Bolívia por La Quiaca, Argentina, Villazon, Bolívia. Peguei um ônibus e fui para Potosi. 4 mil metros de altitude. Altiplano em alto estilo. Na chegada, depois de uma noite de viagem em um ônibus apertado e de estradas de chão, na rodoviária, encontrei dois casais de argentinos de quem fiquei amigo (estava viajando sozinho). Carolina, Miguel, Pablo Tellezon e Guadalupe Miles (só lembro estes sobrenomes). Fiquei bem amigo de Pablo e Guadalupe. Ele, maitre no Sheraton em Buenos Aires, ela fotógrafa. Saímos algumas vezes em Potosi (um dia fomos fotografar em uma feira), fomos jantar. Na última noite juntos, jantamos em um restaurante em que tocavam alguns músicos peruanos. Guadalupe propôs que oferecêssemos uma garrafa de vinho aos músicos. Quando terminaram, vieram falar conosco e agradecer. Nos convidaram para ir ao estúdio deles, ali perto, onde haveria uma festa. Fomos. Era uma sala retangular, com bancos em volta, eles tocando em um canto, pessoas dançando ritmos argentinos e outros (chacarera, acho que é argentina). Lenços na mão e passos esquisitos. E alguém que de quando em vez passava com uma jarra de bebida que se tomava na própria jarra, um gole cada um. A 4 mil metros, altiplano, músicos peruanos, ritmos argentinos e gente dançando. Foi minha maior experiência lisérgica! Nunca mais vi meus conhecidos argentinos. Depois, segui Bolívia adentro, La Paz, Copacabana, Peru, Caminho Inca. Meu pai morreu no meio dessa viagem, fiquei sabendo uma semana depois, quando liguei pra casa. Foi de repente, eu estava no meio de um Canyon, olhando côndores. Canyon de Colca. Difícil saber coisas desse jeito, uma semana depois. Não sabia o que fazer, continuei viajando. Fui ao Chile. Depois disso, me dei mal muitas vezes. Fui roubado, cruzei com um dono de hotel preconceituoso com latino-americanos (e era chileno!). Mas passou, passou. Me lembrei disso tudo por que aqui, olhando as exposições, em uma coletiva de fotógrafos argentinos, está uma foto de Guadalupe Miles, a namorada do Pablo Tellezon. Que bacana é encontrar pontos de contato, de semelhança. Nem que seja só (!) da memória.

Tenho uma foto dela, feita naquela feira em Potosi. Quando chegar em POA, posto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Flavio, escreve pra esta mulher! acho que ela vai adorar isto! tem outra parte que comento depois, pessoalmente. bj bete