Domingo passado, procurando fotos que sabia que existiam e não sabia onde andavam, me deparei com este contato. Pra quem não sabe (não é crime, isso é mesmo coisa "antiga"!) as folhas de contato eram a primeira relação "positiva" do fotógrafo com suas imagens (meio ruim dizer isso, mas, posto assim, o filme era a primeira relação "negativa" com as imagens...). Importante pra mim, este contato é o resultado do primeiro filme que fotografei, no primeiro curso de fotografia que fiz, com a primeira câmera que tive. Uma câmera Praktica MTL3, de fabricação da Alemanha Oriental, com lente de rosca. (Pensei em explicar "Alemanha Oriental" ou "lente de rosca", mas achei que ia começar a me deprimir se seguisse nessa linha...). Depois, tive uma Nikon FM, uma F100 (foi o fim do meu mundo analógico), uma Nikon D200 e agora uma D700. Não foram muitas, pensando assim. Mas me ensinaram muito (sobre mim e sobre o mundo).
Mas queria postar mesmo era esse texto do Veríssimo que saiu na ZH desta semana. Sinto falta do tempo no laboratório fazendo contatos. Do topete também.
Houve uma época - Luis Fernando Veríssimo
Um dia falaremos do tempo em que se revelavam fotos e as crianças não nos entenderão. Perguntarão “Como, ‘revelava’?”, e contaremos que levávamos os rolos de filme para serem revelados, e só então sabíamos como as fotos tinham “saído”, se nenhuma cabeça tinha sido cortada e nenhuma paisagem reduzida a um borrão indecifrável. E aumentará a perplexidade das crianças. “Rolo?”. “Filme?”. Reagirão ao fato de que houve uma época em que a distância entre o “clic” e a foto pronta podia ser de semanas como hoje reagimos à lembrança, por exemplo, de que já existiu uma coisa chamada Gumex. Quem se lembra do que era Gumex que levante o dedo, se ainda tiver forças. Usei muito Gumex. Era uma espécie de gelatina cor-de-rosa que se aplicava ao cabelo para fixar o penteado. Vendia-se em potes ou em pó, para sua mãe misturar com água. O cabelo ficava duro. O Gumex não apenas mantinha seu topete armado em qualquer ventania, como servia de proteção contra eventuais objetos caídos do céu. Um problema: depois de passar o Gumex, você tinha poucos segundos para ajeitar o topete de modo a assegurar o máximo efeito, pois o endurecimento era rápido. Não havia tempo para muita criatividade.
Ninguém precisa mais esperar para ver suas fotos reveladas e as velhas câmeras com rolos de filme seguem o caminho do Gumex para o esquecimento, mas as novas câmeras não tornaram o ato de fotografar muito mais fácil, pelo menos para os recém-chegados ao mundo digital. Como bem sabe quem já teve que esperar, fazendo pose, que um fotógrafo descobrisse como funcionava a câmera digital de outro.
Ninguém precisa mais esperar para ver suas fotos reveladas e as velhas câmeras com rolos de filme seguem o caminho do Gumex para o esquecimento, mas as novas câmeras não tornaram o ato de fotografar muito mais fácil, pelo menos para os recém-chegados ao mundo digital. Como bem sabe quem já teve que esperar, fazendo pose, que um fotógrafo descobrisse como funcionava a câmera digital de outro.
– É só apertar o botão.
– Qual?
– O da direita.
– Minha direita ou a sua?
– A sua, a sua.
– Não aconteceu nada.
– Tem que ficar apertando.
– Pronto. Deu. Ou não deu?
– Eu não vi o “flash”.
– Tinha que ter “flash”?
– Tinha. Tenta de novo.Clic.– Oba. Agora foi.
– Deixa ver como ficou...
– Acho que ficou boa.
– Você cortou a minha cabeça!
É verdade que as novidades nem sempre fazem esquecer o que havia antes. Como prova a volta do disco de vinil, quando parecia que o CD era definitivo.Além de, dizem, o vinil gravar coisas que o CD não grava, deve haver um pouco de nostalgia nessa volta ao passado. Eu usaria de novo o Gumex, se ainda existisse. Mas cadê o topete?
* Fonte: Jornal Zero Hora, publicado em 3/08/2009.
P.S. Meu primeiro curso de fotografia foi 1994, com o grande Marcelo Amaral, no SENAC da Cel. Genuíno, no tempo em que se fazia fila de madrugada pra conseguir vaga por lá. As fotos foram feitas (mais reminiscências...) quando uma turma de fotografia ainda conseguia ir à Redenção, tranquilamente, fotografar.
4 comentários:
Ahhh, tinha que ter um auto-retrato daquela época! : )
Que barbaro!!
beijo de uma amiga analógica
Percebe-se a boa composição desde o início, ousadas. Faz lembrar algumas "primeiras fotos" que estão na cabeça e em alguma caixa num canto. Um dia serão encontradas, certo.
Tchê, estou muito de cara por não ter chegado no Abaixando com Pipocas. Dias conturbados, horários incontroláveis. Sigo prometendo a presença no próximo. Seguro.
abraço pra galera e bom trabalho
Eduardo Seidl
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