Comecei a fotografar porque gostava de desenhar com o olhar. Gostava de relacionar elementos da cidade de maneira que parecessem outras coisas, não as que eu efetivamente (!) via. Por exemplo, gostava de caminhar olhando para cima, para ver como as linhas do teto dos prédios se juntavam e que formas apareciam. Até aí, fotografava sem câmara. Quero dizer, muito tempo depois me dei conta que “fotografava”.
De verdade, comecei a fotografar porque precisava me concentrar. Daí a perceber que não podia haver concentração maior do que quando estava olhando pelo visor da câmera foi um pulo. O mundo enquadrado era muito mais fácil que o mundo amplo, aberto, binocular. Além de monocular, preferia as teleobjetivas. Aproximavam tudo e, ao mesmo tempo, mantinham tudo a distância. Paradoxal. E mais paradoxal é que eu não gostava. Achava que fotografia “de verdade” exigia relacionamento, proximidade, troca. E não me satisfazia. Nunca me satisfazia com o que fotografava. Achava “relacionamento, proximidade, troca” um grande mistério. Uma vez, Beatriz me disse que minhas fotografias eram como um olhar “através”. Não gostei. Não queria olhar “através”. Queria estar dentro, olhar “de dentro”, próximo, e não “espiar”. Assim era fotografia, para mim.
Comecei a pensar diferente em uma viagem, quando vi uma exposição de um fotógrafo de quem nunca havia ouvido falar. Saul Leiter. Fotógrafo norte-americano dos anos 50, que fotografava nas ruas e em cor, fato raro na época. Como eu, e bem antes, Leiter fotografava “através”. Foi quando me dei conta que estava querendo ser outra coisa, outra pessoa, que não conseguia reconhecer em mim, uma forma, um jeito. Que estava fazendo força para olhar para o lado, para o que eu não era, em vez de reconhecer como eu olhava. Simples e complexo: olhar como eu olho. Demorei muito para me dar conta de como olho. E mais difícil que isso é, depois de descobrir, não “regrar” a maneira de olhar e, para sempre, ver tudo da mesma maneira. Para mim, fotógrafo, seria, quase, morrer.
Com respeito à técnica, gosto de me exigir quando fotografo. Gosto de enquadrar e dali, do enquadramento da hora da obtenção, ter a fotografia. Acho que é uma mania de quem começou analogicamente. E acho que digo isso também com um certo “orgulho”, antigo provavelmente. Um orgulho de dizer que as fotos destas páginas são assim, sem cortes, sem manipulações, só com os tratamentos que toda fotografia digital exige. Fotografia nunca foi a realidade. Mas, agora, além disso, precisa ser afirmada para, ao menos, ter um mínimo de credibilidade possível. Tempos bicudos esses...
De verdade, comecei a fotografar porque precisava me concentrar. Daí a perceber que não podia haver concentração maior do que quando estava olhando pelo visor da câmera foi um pulo. O mundo enquadrado era muito mais fácil que o mundo amplo, aberto, binocular. Além de monocular, preferia as teleobjetivas. Aproximavam tudo e, ao mesmo tempo, mantinham tudo a distância. Paradoxal. E mais paradoxal é que eu não gostava. Achava que fotografia “de verdade” exigia relacionamento, proximidade, troca. E não me satisfazia. Nunca me satisfazia com o que fotografava. Achava “relacionamento, proximidade, troca” um grande mistério. Uma vez, Beatriz me disse que minhas fotografias eram como um olhar “através”. Não gostei. Não queria olhar “através”. Queria estar dentro, olhar “de dentro”, próximo, e não “espiar”. Assim era fotografia, para mim.
Comecei a pensar diferente em uma viagem, quando vi uma exposição de um fotógrafo de quem nunca havia ouvido falar. Saul Leiter. Fotógrafo norte-americano dos anos 50, que fotografava nas ruas e em cor, fato raro na época. Como eu, e bem antes, Leiter fotografava “através”. Foi quando me dei conta que estava querendo ser outra coisa, outra pessoa, que não conseguia reconhecer em mim, uma forma, um jeito. Que estava fazendo força para olhar para o lado, para o que eu não era, em vez de reconhecer como eu olhava. Simples e complexo: olhar como eu olho. Demorei muito para me dar conta de como olho. E mais difícil que isso é, depois de descobrir, não “regrar” a maneira de olhar e, para sempre, ver tudo da mesma maneira. Para mim, fotógrafo, seria, quase, morrer.
Com respeito à técnica, gosto de me exigir quando fotografo. Gosto de enquadrar e dali, do enquadramento da hora da obtenção, ter a fotografia. Acho que é uma mania de quem começou analogicamente. E acho que digo isso também com um certo “orgulho”, antigo provavelmente. Um orgulho de dizer que as fotos destas páginas são assim, sem cortes, sem manipulações, só com os tratamentos que toda fotografia digital exige. Fotografia nunca foi a realidade. Mas, agora, além disso, precisa ser afirmada para, ao menos, ter um mínimo de credibilidade possível. Tempos bicudos esses...
* Texto e fotos publicados na Revista Magis (http://www.unisinos.br/magis/), da Unisinos, em julho/2009, na coluna "Sob a Luz (11)". (Publicado na revista com pequenas alterações, suficientes para que tudo pareça muito diferente. Ai, edição...)
6 comentários:
que legal esse texto Flavio!
gostei de saber dessas coisas
bem bonita a terceira foto, gostei bastante
um beijo!
bota bicudo nisso!
baita texto!
baitas fotos!
Maravilha de texto, Flavio !!
Aparentemente facil de 'ler atraves', mas bastante desafiador e complexo para ler 'de dentro' ...
Nao te parece ?
Grande abraco,
:)
Por-ra! (Pode escrever isso aqui?)
Muito bom texto e fotos lindas. Fiquei contente de ler isso, porque também me sinto assim.
Adoooro textos sobre fotografia. Principalmente saber como os fotógrafos se sentem. Gostei demais de ler esse post, é muito inspirador.
Aprendi muito com a fotografia, apesar de saber que ainda tenho muuuito o que aprender. Depois que me envolvi com ela, criei um relacionamento muito intenso: não tem um dia que eu não fotografo.
Na maioria das vezes não estou com a minha câmera, mas a foto fica gravada na minha mente. As vezes esperneio por não estar com ela.
Mas é assim mesmo né, teria tantas fotos legais se estivesse com a minha câmera 24h por dia.
Beijos.
Flávio;
Adorei ler seu texto. Porque essa aceitação de sua propria maneira parece-me aquele ponto de mutação a partir do qual sua produção é sua, a minha, minha, ou seja a partir da aceitação do "és aquilo" podemos seguir nosso caminho, sem nos perdermos nos chamados múltiplos.
Grande abraço,
Ivan de Almeida
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