Robert Mapplethorpe, que chocou os EUA com sexo e nudez, ganha mostra
Galeria exibe mais de 30 fotografias do artista, entre nus masculinos e femininos e retratos clássicos de copos-de-leite, orquídeas e tulipas
SILAS MARTÍ (DA REPORTAGEM LOCAL)
Robert Mapplethorpe era do tipo que não esquecia aniversários. Descrito como doce e simpático pelos amigos, era ótimo na mesa de jantar, alguém que não pensariam duas vezes antes de apresentar para a mãe. Também foi quem mais chocou a sociedade norte-americana com imagens de sado-masoquismo, sexo e nudez. Mapplethorpe, que tem mais de 30 fotografias expostas na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, assumiu a homossexualidade na arte contemporânea com mais veemência do que qualquer outro artista de sua geração.Antes de morrer de Aids em 1989, o filho de operários católicos do Queens fotografou a roqueira Patti Smith, namorou o colecionador Sam Wagstaff, escalou modelos negros e um albino para um enlace erótico PB e iluminou flores como Josef von Sternberg filmou Marlene Dietrich em "O Anjo Azul". Tudo em nome da forma."Ele se interessava por beleza, basicamente", lembra seu amigo e advogado Michael Scout, 65, hoje diretor da Mapplethorpe Foundation, que cuida do espólio do artista, em Nova York. Foi ele quem defendeu as obras do fotógrafo de censura numa exposição em Cincinnati, nos anos 90, que acabou com a prisão -e pouco depois a soltura- do diretor do museu.
Flores túrgidas
"Mas o escândalo é o que menos importa no trabalho dele", defende o curador italiano Germano Celant, 69, que costumava se hospedar no estúdio de Mapplethorpe. "As pessoas se chocavam com o tamanho dos pênis, mas sua obra é clássica."Mapplethorpe tratou mesmo a pele como mármore e bronze. Sua obsessão por modelos negros, quase sem pelos, refletia o pensamento de Michelangelo, que tentava "libertar a forma da matéria", e Rodin, com suas peças de metal lisas, sem arestas.Numa sessão de fotos, Mapplethorpe chegou a se irritar com uma modelo por causa de uma ruga no seio. "Queria que ela fosse lisa, perfeita, como uma escultura de [Antonio] Canova", lembra Celant, denunciando o flerte do artista com pulsões neoclássicas que, por pouco, não esbarram no cafona.Na mostra paulistana, imagens de homens e da body-builder Lisa Lyon, com feições quase masculinas, estão expostas junto de fotografias que fez de copos-de-leite, orquídeas e tulipas. "Mais do que o masoquismo, as flores são a parte mais erótica de sua obra", afirma Celant. "Ele dizia que elas tinham de ser colhidas ainda túrgidas."Isso porque gostava de aproximar caules e pétalas de pernas, braços e outras partes do corpo. "Era um formalista", resume Richard Flood, 65, curador do New Museum, que prepara um livro sobre o artista."Ele pensava só nos tons de preto, de cinza, de branco."
ROBERT MAPPLETHORPE Quando: abertura hoje, às 19h; ter. a sex., 10h às 19h; sáb., 10h às 17h Onde: Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 0/xx/11/ 3032-7066; classificação: livre) Quanto: entrada franca
Fonte: Folha de São Paulo, 14/05/2009
Patti Smith e Mapplethorpe, quando eram casados.
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