quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"Viúvas", Terreira da Tribo





















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Como poucas pessoas vão ver (somente 48 por noite, poucas noites), acho que não mostro demais. São fotos da peça “Viúvas”, da Terreira da Tribo, encenada na ilha das Pedras Brancas, também conhecida como Ilha do Presídio. Neste local ficaram detidos alguns dos presos políticos do regime militar. A peça (“teatro de vivência”) fala disso, e um pouco mais.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sem (mais) palavras

A câmera universal

É comum alguém anunciar que não sabe desenhar. Mas será que desenhar tem a ver com saber, com alguma forma específica de conhecimento? É certamente muito mais raro alguém proclamar que não sabe fotografar. Talvez o cidadão admita que não domina um equipamento mais sofisticado, que lhe falta alguma técnica, mas é raro que declare que não sabe fotografar. E, no entanto, fotografia é algo que se ensina, que se aprende e se estuda.
Observe, por exemplo: quase todo mundo, quando começa a estudar fotografia, logo deixa de dizer máquina e passa a usar câmera. A máquina, de alguma forma, afasta o procedimento de captação de imagens daquilo que ele tem de mais humano. Dizer máquina nos transfere para um outro universo, menos pessoal, mais distante, nos transporta para o campo dos mecanismos, daquilo que não é de carne nem osso. Não que esse seja um mundo pior ou melhor, não é isso que interessa aqui. Ocorre que dizer câmera, em lugar de máquina, torna o universo da fotografia mais íntimo. A câmera, diferentemente da máquina, funciona como prolongamento do olho, do corpo, do imaginário daquele que fotografa.
Sim, fotografia é algo que se ensina. Portanto, aprende-se, estuda-se.  O aprendizado mais efetivo, obviamente, não é aquele que nivela, que comprime ou iguala os diferentes olhares. Não é à toa que o lugar privilegiado de estudo se chama universidade. O estudo mais efetivo reconhece as disparidades. Mais do que isso: alimenta-se e sobrevive dessas diferenças: fotografias experimentais, fotografias para imprensa, cores e preto e branco, instantâneos, imagens construídas, tomadas rápidas, ensaios cuidadosamente planejados, documentações de momentos decisivos ou da banalidade da nossa vida cotidiana. Aprende-se a dominar a câmera, aprende-se enquadramento, composição, atribuições de sentidos, ordenamentos, aprende-se que sempre se estará aprendendo e que sempre haverá algo para ensinar. O ensino nos deixa mais íntimos daquilo que nos propomos a examinar.
Isso vale tanto para a câmera mais sofisticada quanto para aquela mais rastaquera, que opera somente no automático. Câmera, não máquina.

Texto do Eduardo Veras para a Exposição Panorâmica, que abre amanha, 19h, na Galeria dos Arcos da Usina do Gasômetro.